O Instituto Datailha deve divulgar mais uma pesquisa de intenções de votos para governador do Maranhão, nesta quarta-feira (14/09), conforme informações disponíveis no PesqEle – Sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais na página do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O último levantamento contratado pela TV Metropolitana, afiliada da Band no Maranhão, foi divulgado pela emissora no dia 15 de agosto e apontava a “liderança” do governador Carlos Brandão (PSB), que apareceu com 27,4% da preferência do eleitor.

A divulgação, entretanto, chamou atenção pelo tamanho da discrepância com a tendência apontada pelos demais institutos no mesmo período. O que pouca gente sabe é que o Datailha foi beneficiado com recursos do governo estadual, que hoje é administrado pelo candidato do PSB.

Segundo as informações disponíveis no Portal da Transparência, o Instituto Datailha teria recebido do Governo do Maranhão, em 2021, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA, o valor de R$ 139.585,00, referente a pagamento de parcelas do edital nº 20/2020 – Chamada Pública FAPEMA/FINEP do Programa Tecnova – MA – Apoio à Inovação Tecnológico em Micro-Empresas e Empresas de Pequeno Porte- Subvenção Econômica à Inovação.

Sem mencionar o acordo entre governo e o instituto, aliados governistas e influenciadores digitais louvaram a ‘liderança’ do governador pela empresa que foi uma das contempladas no programa cujo objetivo é construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização (inclusiva e sustentável) e fomentar a inovação, como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A iniciativa é realizada pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), por intermédio da FAPEMA, em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

Sócio foi assessor especial

Além da chamada pública, também chama a atenção outro fato curioso: um dos sócios que hoje integram o quadro societário do Datailha teria atuado até outubro de 2019 como assessor especial de uma importante secretaria estadual, mas esse é um assunto para a próxima matéria.

Outro lado fica em silêncio

Com o objetivo de requerer explicações a cerca das informações publicadas, o blog enviou questionamentos para o instituto no contato telefônico disponível em seu site, mas até o momento não obteve resposta.

Transparência em 1º lugar

Uma pesquisa confiável é uma pesquisa transparente. Todo instituto que realiza pesquisas minimamente críveis precisa informar quantas pessoas ouviu em seu levantamento, em que dias elas foram ouvidas, como elas foram abordadas, que perguntas foram feitas a elas e quem pagou pelo levantamento.

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral), inclusive, exige que esses dados sejam registrados junto ao órgão pelos institutos de pesquisa que realizarem levantamentos sobre intenção de voto durante o ano eleitoral buscando garantir a qualidade das informações divulgadas.

Maranhão sem filiados na Abep

Uma consulta junto ao site da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisas (Abep) apontou que nenhuma empresa de pesquisa no Maranhão possui filiação à entidade, conforme dados obtidos junto ao diretório de filiados, responsável pela autorregulação das empresas do ramo.

Em janeiro deste ano, o pesquisador e coordenador do Conselho de Opinião Pública da Abep, João Francisco Meira, destacou em entrevista ao UOL, que as companhias filiadas à entidade estão sujeitas a auditorias da associação. Por isso, segundo ele, precisam realizar levantamentos com metodologias alinhadas às melhores práticas e, assim, teoricamente mais confiáveis.

Ele, entretanto, ressalta que há institutos confiáveis que, por diferentes razões, decidem não se vincular à Abep. Desta forma, não estar filiado à entidade não é um sinal automático de má qualidade de pesquisas ou de manipulação de dados.

Trabalho impossível

Os conselhos regional e federal de estatística também monitoram e fiscalizam as pesquisas eleitorais. O trabalho, contudo, não é simples e não consegue dar conta de todos os levantamentos sobre intenção de voto realizados no país, segundo Maurício Gama, presidente do Confe (Conselho Federal de Estatística).

“Para ter certeza de que uma pesquisa foi realizada adequadamente, teríamos de acompanhar todas as entrevistas. São inúmeras pesquisas sendo realizadas em ano eleitoral. É um trabalho impossível de se realizar”, admitiu Gama.

Selo de confiabilidade

Devido a essas fragilidades, em maio deste ano, o UOL elaborou uma lista de critérios de classificação de pesquisas eleitorais. Alguns detalhes sobre a condução das pesquisas conferem mais ou menos peso a um levantamento.

Dentro dos critérios foi levado em consideração o grau de isenção de cada instituto, com peso positivo maior a institutos que não possuem ligações ou que não recebem financiamento de empresas do poder público caso.

Levando em conta a ferramenta de confiabilidade do UOL baseadas em entrevistas com especialistas, análise de metodologia, cenários apontados nas pesquisas e histórico dos institutos responsáveis pelas pesquisas, seria possível fazer a seguinte avaliação.

Controversa

DATAILHA

Como são feitas as entrevistas – Na eleição de 2018, fez pesquisas com entrevistas presenciais.

Amostragem – As pesquisas são feitas por meio de amostragem aleatória com entrevistas individuais. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança utilizado nos resultados da pesquisa é de 95%.

Transparência – Sempre divulga seus métodos

Vínculo com o poder público – Foi beneficiado com recursos do governo do Maranhão em 2021 e um dos atuais sócios teria sido nomeado como assessor especial de uma secretaria estadual.

Histórico – Foi fundada em 19 de julho de 2016 e realizou seu primeiro levantamento sobre intenções de voto foi no mesmo ano na disputa pela Prefeitura de São Luís.

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