Na última sexta-feira (3), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em uma entrevista concedida à CNN em meio à crise das enchentes no Rio Grande do Sul, atribuiu as tragédias climáticas ao que descreveu como um “apagão climático” durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Essa declaração, contudo, levanta questões sobre a simplificação dos desafios ambientais que o Brasil enfrenta.
Críticos defendem que as enchentes, que já resultaram em mais de 50 mortes, são parte de um problema ambiental complexo, que se estende por décadas e vários governos, inclusive durante o período em que a própria Marina Silva foi ministra.
Eles apontam que criticar a gestão de Bolsonaro pode parecer uma tentativa de politizar uma tragédia que é fruto de longos períodos de negligência ambiental por parte de diversos governos.
Desequilíbrio
Embora a crítica possa ter fundamento na ineficácia das políticas ambientais durante o governo anterior, o foco em um único período desconsidera as falhas contínuas e a necessidade de uma reformulação mais ampla e sistemática das políticas de gestão ambiental e de planejamento urbano no país.
Por isso, ao que parecer, não se trata apenas de uma culpa ao governo anterior. Não é só Bolsonaro. O que está acontecendo no sul do país, o que ainda acontece no Nordeste, o desequilíbrio completo que estamos experimentando, é uma construção cruel de muitos anos e de muitos governos, inclusive os anteriores de Lula, inclusive aquele em que a própria Marina já foi ministra.
Décadas
No restante da entrevista, a responsável pela pasta de Meio Ambiente acerta quando diz que os avisos estão sendo dados há mais de três décadas e foram ignorados.
E acerta quando afirma que o estado de emergência climática precisa ser expandido para boa parte do Brasil por motivos diversos. Isso inclui até mesmo as ondas de calor que atingem regiões do país com mais frequência do que nunca.
Pouco
Mas decretar emergência apenas, que é a ação burocrática básica de qualquer governo numa crise, ainda é muito pouco.
Decretar emergência apenas para declarar que se importa, ou somente para ter liberação de dinheiro com mais facilidade, não resolve nada sem um plano de verdade, sem entender a prioridade disso.
Prioritário
É preciso que haja investimento volumoso e contínuo, mesmo quando não houver pessoas penduradas em telhados, nas ações educativas para crianças, jovens e adultos.
É preciso que haja um grande programa nacional de recomposição de vegetação no país inteiro em áreas urbanas. E ainda mais investimento em habitação para liberar os trechos das cidades brasileiras que hoje ocupam leitos de rios, em construções irregulares, em áreas de risco.
Barragens que possam atrasar o impacto das águas sobre as populações também deveriam estar sendo planejadas.
E nada disso foi feito no Rio Grande do Sul. Muito pouco está sendo feito nos outros estados também.
Prejuízos no Maranhão
Em 2009, quando mais de 40 cidades maranhenses foram afetadas pelas chuvas que provocaram a cheia do rio Itapecuru, deixando famílias desabrigadas, o governadora da época, Roseana Sarney, realizou um sobrevoo nos locais atingidos, acompanhado do presidente da época, o mesmo Lula de hoje.
Os dois choraram, ficaram comovidos com o sofrimento das pessoas, prometeram ações para que aquilo não acontecesse mais.
Resultado
Depois daquilo, Roseana deixou governo estadual e passou o bastão para Flávio Dino que depois de oito anos no comando do estado, conseguiu resolver pouca coisa em relação ao assunto. O PT ficou mais seis anos no poder, à época, e Lula voltou desde 2023.
Até hoje, por exemplo, nenhum promessa conseguiu ser colocada em prática e as cidades no estado seguem sendo afetadas, inclusive, com com rodovias sendo cortadas.
Falacioso
Falácia é usar só um pedaço da verdade para falsear a realidade inteira. Bolsonaro fez um governo ruim em vários setores e o ambiental é um de seus piores exemplos, sim.
Mas não dá pra colocar a culpa de 40 anos de incompetência e displicência governamental somente nele.
Olhar pra frente, por sinal, é o que pode salvar mais vidas. É o que todo o governo Lula anda precisando fazer.
Leia mais notícias em isaiasrocha.com.br e nos sigam nas redes sociais: Facebook, Twitter, Telegram e Tiktok. Leitores também podem colaborar enviando sugestões, denúncias, criticas ou elogios por telefone/whatsapp (98) 9 9139-4147 ou pelo e-mail isaiasrocha21@gmail.com