O prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), se manifestou nesta quarta-feira (7), pela primeira vez, sobre o caso do abandono do Renault Clio vermelho, que tinha mais de R$ 1 milhão no porta-malas, em dinheiro vivo, no bairro Renascença, em São Luís.

Braide teve o nome envolvido no caso, pois, no dia em que o carro foi encontrado, o até então funcionário da prefeitura, Carlos Augusto Diniz da Costa, apareceu dizendo ser dono do veículo. Além disso, o motorista, que aparece deixando o Clio abandonado é Guilherme Ferreira Teixeira, que é ex-assessor do deputado estadual Fernando Braide (PSC), irmão do prefeito (entenda o caso mais abaixo).

Por meio de uma rede social, o prefeito da capital afirmou que, demorou a se manifestar, pois, o que ele sabia sobre esse caso era o que estava sendo noticiado pela imprensa.

“Algumas pessoas me perguntam porque ainda não falei nada sobre o assunto do carro até agora. Primeira coisa, eu enviei nota para todos os veículos de comunicação que me pediram, mas em alguns desses veículos de comunicação, essa nota não foi lida. Segundo a coisa, estou falando aqui há pouco mais de uma semana do fato, por uma única razão, o que eu sabia sobre esse caso, era o mesmo que todos sabiam, ou seja, o que estava sendo noticiado pela imprensa”, frisou.

Ainda segundo Braide, ele lamenta ter tido o nome da mãe dele, Antônia Maria Martins Braide, que morreu em outubro de 2010, envolvido no caso. É no nome dela que está o veículo Fit preto, que deu carona para Guilherme Ferreira, após ele abandonar o Clio vermelho com o dinheiro. O prefeito afirma que o Fit preto é usado pelo irmão dele, o médico Antônio Carlos Salim Braide, com quem não mantém nenhum tipo de relacionamento.

“Mas uma coisa eu tenho conhecimento e lamento, diz respeito a um dos carros que aparecem nas imagens e que envolve o nome da minha mãe, que faleceu há mais de dez anos, após lutar contra um câncer. Esse carro, que está em nome da minha mãe, é um veículo de uso do meu irmão Antônio Carlos, com o qual já não falo nem tenho nenhum tipo de relacionamento, há quase três anos. Portanto, não vou permitir que o nome da minha mãe seja manchado por quem quer que seja”, destacou.

Por fim, o prefeito disse que não tem nada a ver com o caso e que a polícia deve aprofundar as investigações e que, “em caso de qualquer irregularidade, puna os culpados, doa a quem doer”.

Após as declarações de Eduardo Braide, a Superintendência de Investigações Criminais (Seic) afirmou que o vídeo do prefeito será anexado ao inquérito, e que as declarações de Braide “reforçam as suspeitas da Policia Civil, no bojo das investigações acerca do carro apreendido com dinheiro em via pública da capital, de que um dos veículos seja utilizado por familiar, que detém a posse do carro”.

Entenda o caso

O prefeito de São Luís teve o nome envolvido no caso após Carlos Augusto Diniz da Costa, até então funcionário comissionado da prefeitura, se apresentar como dono do veículo, no entanto, segundo a Polícia Civil, o carro está registrado no nome de outra pessoa.

Carlos Augusto trabalhava na Secretaria Municipal de Informação e Tecnologia (Semit), de São Luís, e recebia um salário de R$ 3.400. Mas foi exonerado cargo, no dia 31 de julho, após a repercussão do dinheiro encontrado.

No dia 30 de julho, quando o veículo foi encontrado com a mala cheia de dinheiro, Carlos apareceu no local e afirmou aos policiais militares, que vistoriavam o veículo, ser o dono. Na ocasião, o homem disse aos PMs que tinha emprestado o carro a um amigo.

No mesmo dia, ao ser intimado para depor na Superintendência Estadual de Investigações Criminais (SEIC), sobre o caso, Carlos Augusto compareceu, acompanhado por um advogado, mas ficou em silêncio.

Outro fato que liga o nome do prefeito ao caso é que o motorista, que aparece em imagens de câmeras de segurança deixando o carro com R$ 1.109.350 dentro do porta-malas, era Guilherme Ferreira Teixeira, que, em 2019, foi secretário parlamentar de Braide, que era deputado federal na época.

Guilherme seguiu trabalhando com Braide na Prefeitura de São Luís, como assessor especial da Secretaria Municipal de Governo, até fevereiro de 2023. Ele deixou o cargo para ser assessor técnico do deputado estadual Fernando Braide, que é irmão de Eduardo Braide.

Já o carro preto, que deu carona para Guilherme no momento em que ele abandona o Clio com o dinheiro, está no nome da mãe de Fernando e Eduardo Braide, Antônia Maria Martins Braide, que morreu em outubro de 2010.

No decorrer das investigações sobre a origem e destino do dinheiro, Guilherme Ferreira Teixeira também foi chamado para depor, mas também preferiu ser manter em silêncio.

Alvos de busca e apreensão

Na manhã dessa terça-feira (6), a Polícia Civil do Maranhão cumpriu mandados de busca e apreensão contra Guilherme Ferreira e Carlos Augusto.

A polícia esteve em um apartamento localizado no bairro Parque Shalom, onde mora Guilherme. E cumpriu mandados, também, na residência de Carlos Augusto Diniz.

Nos dois locais, a Polícia Civil apreendeu documentos e celulares, para serem analisados. O objetivo é entender qual é a origem do dinheiro e qual o caminho que ele percorreu até que fosse encontrado nas malas do veículo.

Segundo as investigações, o apartamento está registrado no nome de Guilherme, mas já pertenceu ao pai do atual prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), o ex-deputado estadual Carlos Braide. A polícia quer saber como aconteceu essa transferência, se foi vendido ou apenas repassado.

Os dois suspeitos foram prestar depoimentos ainda na tarde dessa terça, na Seic. Durante os interrogatórios, os suspeitos, acompanhados dos seus advogados, permaneceram calados, sem responder a nenhuma pergunta do delegado. Logo depois, foram liberados.

Carro deixado em frente a condomínio

Outra investigação é para descobrir porque o veículo foi deixado em frente ao condomínio na Rua das Andirobas, no bairro Renascença. A polícia descobriu que o carro foi colocado quase em frente a casa Nº 20, que tem como registro a ‘Café e Cia’.

Segundo a polícia, apesar do nome fantasia parecer uma cafeteria, a empresa é de serviços hospitalares e pertence a Clarice Sereno Loiola Braide, cunhada de Eduardo Braide e esposa de Antonio Braide, irmão do prefeito.

Cronologia:

16 de julho

Nesse dia, câmeras de segurança de um condomínio próximo onde o carro foi abandonado registraram o momento em que o veículo, modelo Clio de cor vermelha, dirigido por Guilherme Ferreira Teixeira, chega à Rua das Andirobas, no bairro Renascença.

Após o carro ser deixado, outro veículo de cor preta para bem ao lado do Clio e o motorista desce sem muita pressa e entra no carro preto. O motorista é Guilherme Ferreira, segundo a polícia.

30 de julho

Um porteiro do condomínio, desconfiado com o veículo parado há 15 dias em frente ao prédio, percebeu que havia dinheiro no porta-malas, acionou a síndica, que chamou à Polícia Militar do Maranhão, segundo o delegado Augusto Barros.

Quando a polícia chegou no local, confirmou que se tratava de grandes quantidades de dinheiro físico armazenado dentro do porta-malas do carro, organizados em maços de R$ 50, 100 e 200. O dinheiro foi armazenado pela polícia em três sacos grandes, que foram levados para a sede da SEIC para iniciar as investigações.

Até então, não se sabia do valor exato do dinheiro.

31 de julho

A Polícia Civil termina a contagem das cédulas de dinheiro encontradas no porta-malas do carro. A quantia confirmada é de R$ 1.109.350,00.

No mesmo dia, Carlos Augusto Diniz da Costa, que disse à polícia, no dia da apreensão do valor, ser o dono do veículo, foi exonerado do cargo que exercia na Prefeitura de São Luís. Ele era funcionário comissionado da Secretaria Municipal de Informação e Tecnologia (Semit) e recebia um salário de R$ 3.400.

No entanto, segundo as investigações da Polícia Civil, o carro está registrado no nome de outra pessoa, diferentemente do que alegou Carlos Augusto.

1 de agosto

O valor de R$ R$ 1.109.350 foi depositado em uma conta bancária judicial, no Banco do Brasil, na manhã dessa quinta-feira.

A conta bancária está sendo administrada pela Justiça. O dinheiro vai permanecer lá até que as investigações sobre a origem dele sejam finalizadas ou o dono do dinheiro seja encontrado.

2 de agosto

A Polícia Civil analisa as imagens de câmeras de segurança de condomínios do bairro Renascença, em São Luís, onde o carro foi encontrado.

Após o avanço das análises, a polícia confirmou que o motorista, que aparece no vídeo, é Guilherme Ferreira Teixeira. Ele é ex-assessor especial da Secretaria Municipal de Governo, cargo que ocupou até 2023, na gestão de Braide. Além disso, Guilherme foi assessor técnico do deputado estadual pelo Maranhão Fernando Braide, irmão de Eduardo.

Foi confirmado, também, que o carro preto, que deu carona para Guilherme no momento em que ele abandonou o Clio com o dinheiro, está no nome da mãe de Fernando e Eduardo Braide, Antônia Maria Martins Braide, que morreu em outubro de 2010.

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