Em meio a muito lixo e urubus, cerca de 300 famílias sobrevivem diretamente do lixão do município de Pinheiro, distante 333 km de São Luís, é o que revelam dados da Defensoria Pública do Estado do Maranhão (DPE-MA). O local é o mesmo no qual o menino Gabriel, de 12 anos, foi fotografado encontrando uma árvore de Natal.
Em funcionamento na zona rural do município há aproximadamente 30 anos, a realidade das centenas de famílias que vivem do lixão de Pinheiro, reflete nos dados sobre a pobreza e miséria divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Pinheiro tem mais de 80 mil habitantes e um município mais importantes da região da baixada maranhense. A economia local é baseada na agricultura e pesca.
De acordo com o Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV), do IBGE, o Maranhão é o Estado com maior perda de qualidade de vida e tem o pior desempenho socioeconômico do país. O relatório mostra em qual área rural há maior perda da qualidade de vida em que na urbana.
O IPQV adota medidas que vão de 0 a 1, sendo que, quanto mais perto de zero, menor a perda. O índice do Maranhão chega a 0,260.
Pior desempenho socioeconômico
O Maranhão aparece em última posição no Índice de Desenvolvimento Social (IDS), com 4,897. O índice incorpora a renda e as perdas de qualidade de vida em nove dimensões (renda, moradia, acesso aos serviços de utilidade pública, saúde, educação, acesso aos serviços financeiros e padrão de vida, alimentação, transporte e lazer e viagens).
A realidade crítica que parte da população maranhense vive também foi destaque em um relatório divulgado em setembro pela Organização das Nações Unidas (ONU). O Maranhão apareceu como o Estado em que mais pessoas vivem na miséria. Em 2019, quase 20% dos habitantes viviam com renda mensal abaixo de R$ 145.
Registro
A foto do menino Gabriel, com a árvore de Natal, foi feita pelo fotógrafo João Paulo Guimarães. Com a repercussão da imagem, Gabriel acabou ganhando uma árvore nova, além de outras doações arrecadadas em uma campanha on-line.
“Passei o dia com eles fotografando no lixão. E eu vi quando o Gabriel abriu o saco e puxou. Eu lembro disso como se fosse assim em câmera lenta, acontecendo na minha frente. E eu só virei e comecei a fotografar”, contou no programa.
“Ele virou pra mãe e falou assim: ‘mãe, olha só a gente pega, ajeita essa árvore, ela tá torta, mas a gente ajeita ela, e a gente pega esse pisca-pisca, essas luzes e dá pra colocar na sala no dia do natal’. Quando ele falou isso acabou pra mim ali, aí eu não consegui mais fotografar”, completou João Paulo.
Ainda segundo o fotógrafo, após conversar com Gabriel, ele descobriu que o sonho do garoto é ganhar um celular para assistir, principalmente, às aulas. Após aquele dia, João também conseguiu organizar uma vaquinha on-line que garantiu uma árvore de Natal novinha para o maranhense.
Governo emite nota
Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) destacou que a responsabilidade do gerenciamento dos resíduos é sempre municipal, entretanto, o Governo do Estado dispõe de um aterro sanitário, a Central de Gerenciamento Ambiental Titara, localizada no município de Rosário. Para a Central, são destinados resíduos de 11 municípios, o que corresponde a 0,46% do total de municípios. A Sema informa que, atualmente, 206 municípios do Maranhão fazem uso de lixão a céu aberto, o que corresponde a 94,9% do total de cidades.
A Sema reitera, ainda, que realiza atividades constantes com o intuito de orientar sobre a destinação correta de resíduos sólidos e estimular os consórcios como alternativa para a construção de aterros sanitários.
A Secretaria de Estado do Trabalho e da Economia Solidária (Setres), por sua vez, destaca o extenso trabalho de acompanhamento dos trabalhadores da coleta de resíduos sólidos, inclusive com entrega de equipamentos. Além disso, segue articulando, junto às prefeituras, a criação de galpões para catadores e catadoras para que possam ter um local digno para trabalhar, atua, também, promovendo capacitações e criou um auxílio emergencial para categoria no valor de R$ 400,00, visando reduzir os impactos causados pela pandemia.
A Setres ressalta, ainda, que no último dia 10 de novembro, esteve presente na cidade de Pinheiro em Audiência Pública proposta pela Defensoria Pública do município com a participação do prefeito, para estimular os catadores a criarem suas cooperativas, para, assim, assegurar direitos da categoria.
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