SÃO LUÍS, 24 de novembro de 2023 – O Brasil vem vivendo, desde as eleições de 2018, um cenário de polarização gritante, agravado pelas redes sociais. A expectativa, no entanto, de que essa guerra virtual – protagonizada principalmente entre lulistas e bolsonaristas – deixasse o campo cibernético, e se transpusesse para a vida real durante a campanha eleitoral municipal de 2020, foi frustrada.
A força de esquerdistas ou apoiadores da extrema-direita que se vê nas redes sociais é abafada nas ruas pela existência de um fenômeno que, apesar de todas as revoluções, permanece firme: o predomínio das questões locais quando o assunto é a eleição municipal.
Isso ocorre porque o sistema político nacional é muito diferente dos sistemas políticos regionais. Tem partidos que são relevantes no cenário nacional, e nem existem nos estados. Fato é que os sistemas partidários estaduais se estruturam a partir de forças locais e elas são diferentes das nacionais.
Na realidade, as eleições municipais dificilmente conseguem repetir as disputas de forças no cenário nacional porque cada cidade tem a sua história, a sua tradição. Em 2020, por exemplo, numa situação incomum, o então presidente Jair Bolsonaro participou do pleito apoiando candidatos avulsos de diferentes partidos, já que ele próprio, na época, estava sem legenda desde que saiu do PSL.
Nas duas maiores capitais do país, Bolsonaro decidiu apoiar candidaturas do partido Republicanos (legenda ligada à Igreja Universal): o deputado federal Celso Russomano em São Paulo, e o prefeito Marcelo Crivella no Rio de Janeiro, que tentava reeleição. No entanto, nas duas capitais, ambos perderam a eleição.
O PT do atual presidente Lula, por sua vez, que já vinha de um péssimo desempenho eleitoral em 2016, ano em que o partido estava fortemente desgastado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e pelas acusações de corrupção da operação Lava Jato, também não obteve êxito no último pleito municipal.
Outro fator novo que tem contribuído para que não tenhamos uma “nacionalização” dentro da “municipalização”, é a proibição de coligações nas eleições proporcionais.
Sem a possibilidade de se aliar para maximizar bancadas, os partidos são incentivados a lançar candidatos a prefeito, se puderem. Com isso, aumentou o número de candidatos municipais, dificultando a formação de dois blocos dominantes e a polarização no primeiro turno.
Em São Luís, como destacou hoje o jornalista Marco d’Eça, há pelo menos cinco nomes mais próximos do campo bolsonarista: o prefeito Eduardo Braide (PSD), que se mantém camaleônico quando o assunto é identidade política; o empresário Diogo Galhardo, que quer representar o partido Novo; o ex-prefeito Edivaldo Júnior (ainda sem partido); e os deputados estaduais Yglésio Moyses (ainda no PSB) e Wellington do Curso.
Além da pulverização de postulantes mais à direita, existe outra razão que dificulta a polarização. Bolsonaro, que poderia demonstrar mais protagonismo durante sua passagem pelo Palácio do Planalto, se transformou em um frágil cabo eleitoral pela ausência de uma estrutura organizada ligada a ele.
Em 2024, assim como foi em 2020, candidatos que tentam se colar na figura do ex-presidente o fazem mais por oportunismo do que por semelhanças ideológicas, ou mesmo pela estrutura local criada pelas poucas legendas com pautas bolsonaristas.
Por tudo isso, acredito que a polarização PT-Bolsonaro não venha se repetir na capital maranhense no próximo ano. Temos muitos fatores para isso, mas de todos eles, existe um que considero o mais importante: a vitória incidental do ex-presidente, que acabou levando o pleito de 2018 muito mais por falta de opção do eleitorado do que por uma conquista real de adeptos.
Bolsonaro não tem uma estrutura organizada e foi o que os especialistas chamaram de governante incidental. Ele foi eleito por uma conjuntura única, não porque representava uma força que vinha se constituindo. Se fosse ao contrário, o resultado das eleições de 2022, por exemplo, teria sido outro.
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