SÃO LUÍS, 18 de janeiro de 2024 – Não é fácil vencer uma discussão. Especialmente em um contexto inflamado, em que as opiniões se polarizam, notícias falsas se proliferam, debatedores recorrem a ofensas e sarcasmo, transformando a internet numa espécie de palco propício para a briga.

Uma boa discussão, ao contrário do que a maior parte das pessoas pensa, não serve para a disputa – e, sim, para a construção do conhecimento. Nesse sentido, saber sustentar uma boa argumentação é fundamental.

“Um argumento é uma viagem lógica”, diz Walter Carnielli, matemático, professor de lógica na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor de “Pensamento crítico – o poder da lógica e da argumentação” (Editora Rideel), livro escrito em parceria com o matemático americano Richard L. Epstein.

Para Carnielli, os brasileiros têm uma “péssima educação argumentativa”. Confundimos discussão com briga e não sabemos lidar bem com críticas.

Situação semelhante ao exemplo citado ocorreu nesta quinta-feira, 18, envolvendo o ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim (Novo) e o governador em exercício, Felipe Camarão (PT), por conta das notas do Enem 2023.

Bonfim criticou o fato dos estudantes maranhenses não terem aparecido na lista daqueles que tiraram nota máxima na redação – apenas 60 estudantes, de todo o Brasil, alcançaram o feito – e politizou o assunto como forma de atacar Camarão, que está licenciado do cargo de secretário de Estado da Educação.

De forma didática, sem xingar Lahesio, apenas sugerindo que o mesmo possui algum tipo de problema cognitivo, o petista rebateu as críticas e exigiu que o médico mantivesse respeito aos estudantes; docentes; e pelo sistema público educacional.

Foi o bastante para o ex-prefeito perder a compostura e tecer comentários pejorativos contra Camarão, inclusive questionando sua sexualidade. “Sabe qual é o seu maior problema, governador? O senhor não se assume! Governador em exercício Felipe Camarão, sai do armário, cara, fica mais bonito pra ti”, disse Lahesio em contraponto a Camarão.

Mais do que criticar, Lahesio deveria aprender com o modelo educacional dos Estados Unidos, país que tanto admira. Lá, assim como em qualquer instituição de ensino americana, debates são extremamente comuns e fazem parte da rotina desde a escola.

Os alunos aprendem a debater defendendo suas ideias sem atacar o interlocutor pessoalmente, conforme lembrou a jornalista Sabine Righetti em um contundente artigo em sua coluna Abecedário, na Folha, em 2014.

Ou seja: se alguém discordar de um texto, deve focar o argumento contra o texto. Mas não chamar o autor de burro ou veado.

Isso faz com que os americanos sejam muito bons em debater em alto nível sem que os debatedores deixem, por exemplo, de ser amigos.

Eu concordo que a educação maranhense ainda não é uma das melhores, mas precisamos avançar com propostas que possam elevar os indicadores educacionais.

Falta, no nosso sistema educacional, o incentivo ao debate, à argumentação e à contra-argumentação. Faz falta que os professores convidem os alunos a pensarem sobre aquilo que eles estão ensinando e perguntem: “o que você acha disso?”

Não aprendemos a debater. E, sem saber como agir, acabamos xingando aquilo com o qual não concordamos. É basicamente isso que aconteceu com Lahesio. Ao criticar a falta de um aluno maranhense na lista dos 60 que tiraram nota máxima na redação, o ex-prefeito expôs sua falta de conhecimento para o debate e resolveu baixar o nível da discussão.

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