Atuação da juíza Gabriela Hardt amplia suspeitas de Lula sobre Moro

A atuação da juíza Gabriela Hardt, da 9ª Vara Federal de Curitiba, reforça suspeitas de uso político da operação da Polícia Federal (PF) que desbaratou planos do PCC para atacar autoridades. Entre os alvos, estariam o senador Sérgio Moro (União-PR). De acordo com as investigações, a organização criminosa estaria planejando sequestrar e assassinar o ex-juiz e seus familiares.

No entanto, chama a atenção o timing das decisões da juíza, que ficou conhecida por agir em consonância com os interesses de Moro, desde que atuou como sua substituta na Lava Jato.

Segundo reportagem da jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, a decisão de levantar sigilo irritou alguns membros da Polícia Federal que viram na ação uma tentativa de “blindar” Moro após declarações do presidente Lula.

Na quinta-feira (23/3), Lula questionou a investigação. “Eu não vou falar porque eu acho que é mais uma armação do Moro. Mas eu quero ser cauteloso e vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro, mas eu vou pesquisar e ficar sabendo da sentença”, disse.

A medida também foi criticada pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta. Ele disse que a divulgação dos documentos atrapalha as apurações e questionou se isso foi feito “para ajudar a narrativa de um amigo” — Moro.

“Uma juíza retirar o sigilo de um inquérito sensível e perigoso que ainda está em curso, sem combinar com a PF que está no comando da investigação ajuda no quê? Tudo isso para ajudar a narrativa de um amigo? Vocês acham normal? Não se indignam?”, escreveu.

O suposto ataque a Moro planejado pelo PCC, tem hoje uma profunda sensação de déjà-vu. Desde 2019, setores da imprensa e até da própria PF tentam associar, direta ou indiretamente, integrantes da organização criminosa com a agremiação partidária que hoje comanda o Palácio do Planalto. Naquele ano, o jornalista Reinaldo Azevedo, que não é petista, classificou como “Armação Ilimitada” a tentativa da PF de incriminar a sigla partidária relacionando-a com a facção criminosa PCC.

Para comentarista da BandNews FM, trata-se de um roteiro amador. “O roteiro da Armação Ilimitada, Lula iria para um presídio na quinta, e, na sexta, viria a público a conversa ligando PT-PCC, sem evidência, sem indícios, sem nada”, destacou Azevedo.

O que também intrigou o jornalista foi a narrativa da PF: “E com o bandido ainda dizendo que agora a coisa mudou porque, afinal, existe Sérgio Moro [que na época atuava como juiz da Lava Jata]”.

Na eleição de 2022, o tema voltou à tona, com vídeos de parte da delação premiada em que o publicitário mineiro Marcos Valério aparece em depoimento à Polícia Federal, falando sobre uma suposta relação de petistas com o PCC. Naquele período, o núcleo bolsonarista usou o material buscando desgastar a imagem de Lula para reduzir a vantagem do petista nas pesquisas eleitorais.

Em 2023, a narrativa é novamente explorada com a operação da PF que cumpriu 11 mandados de prisão e 24 mandados de busca e apreensão contra um grupo suspeito de planejar atentados contra servidores públicos e autoridades.

Sérgio Moro, seria alvo de PCC, PF desarticula organização que pretendia realizar ataques contra servidores públicos

As coincidências

As investigações contra o PCC estavam em curso desde agosto do ano passado. Com autorização da juíza, a operação foi deflagrada na última quarta-feira (22). Um dia antes, Lula afirmou em entrevista ao site Brasil 247 que, enquanto esteve preso em Curitiba, queria se vingar das injustiças cometidas por Moro, e chegou a falar no desejo de “foder” com o ex-juiz.

A sincronia dos eventos voltou a se repetir. Ontem, após Lula falar em “armação”, a juíza retirou o sigilo de documentos e decisões relacionados à prisão de suspeitos de planejar ataques contra autoridades.

Lavajatismo

Desse modo, Gabriela parece ressuscitar os métodos lavajatistas, quando as operações eram vazadas à imprensa tradicional como forma de pautar o debate político, de acordo com os interesses dos envolvidos na operação.

Moro, por exemplo, vazou um grampo ilegal da então presidenta Dilma Rousseff um dia antes de Lula tomar posse como ministro da Casa Civil, em 2016. Dois dias depois, a sua nomeação foi derrubada pelo ministro Gilmar Mendes, com base no grampo de Moro.

Fatos estranhos

Antes mesmo das declarações de Lula, eu já estava achando estranho alguns fatos.  Afinal, por que o PCC iria se meter “de pato a ganso” com Moro, que não é mais juiz e se constitui como um senador do baixo clero no Senado? Não tem lógica

Achei bem estranho o ministro Flávio Dino cair nessa lorota da Polícia Federal, que vem alimentando essa narrativa desde 2019. Além disso, não custa lembrar as incontáveis ações cinematográficas da corporação exibidas ao vivo, com exclusividade pela Globo, contra petistas.

A ação da PF para desbaratar o suposto atentado à vida de Moro, só serviu para dar ar de narrativa que circula nas redes bolsonaristas, de que Lula e o PT mancomunados com o PCC, orquestraram a morte do ex-juiz.

Assim como destacou o jornalista Gerson Nogueira em seu twitter, eu não discuto o republicanismo dos governos petistas. Acho até necessário mostrar para sociedade que o Estado é para todos. Mas não dá pra ir pra Guerra sem uma forte inteligência a olhar os passos futuros do exército inimigo e dos adversários.

Desde a deflagração da operação os indícios apontam para uma óbvia armação que aparentemente não foi vista pelo ministro Flávio Dino, mas que o Lula alertou ontem.

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