Tornou-se inexplicável a resistência do prefeito Edivaldo Júnior em demitir o secretário Lula Filho, da Secretaria Municipal de Governo (Semgov), após novas revelações sobre um suposto esquema de sonegação fiscal que ultrapassam os R$ 200 milhões, envolvendo a terceirização do setor que gerencia e controla a arrecadação de impostos e taxas na Secretaria Municipal de Fazenda (Semfaz).
Desde que os escândalos vieram à tona, na última segunda-feira (26), o chefe do executivo tem feito uma pergunta aos aliados: quem está por trás das denúncias? Sinceramente, não consigo entender porque a reposta para essa pergunta ainda causa surpresa?
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Ora, quem está por trás das denúncias são os mesmos profissionais da imprensa livre que sempre estiveram do lado contrário ao governo municipal. Se não vejamos. O jornalista Davi Max – o primeiro a tornar públicos os documentos mostrando indícios de irregularidades envolvendo o principal secretário de Edivaldo – foi assessor por muito tempo da ex-vereadora Rose Sales (PMN), adversária politica do prefeito. Atualmente, Max trabalha na assessoria do vereador Francisco Chaginhas (PP), que hoje é um dos líderes da oposição na atual legislatura. Soube, inclusive, que no dia que a denúncia “estourou” o vereador já estava pronto pra levar o caso à tribuna da Casa, mas, por falta de quórum, a sessão acabou não sendo realizada.
Outro exemplo é o jornalista Mauro Garcia que vem noticiado em seu blog os escândalos envolvendo o secretário. Garcia assessorava o saudoso vereador Edmilson Jansen – que faleceu em maio deste ano magoado com o prefeito pedetista – ao ponto de adotar postura critica ao governo, em seu ultimo mandato.
Eu mesmo, que já noticiei o caso sobre Lula Filho nesta página eletrônica, sempre estive no campo de esquerda. No primeiro mandato do prefeito Edivaldo, por exemplo, atuei como assessor do ex-vereador Fábio Câmara (PMDB), que foi o principal oposicionista do governo na legislatura passada. Na época, cheguei a produzir um release em que o peemedebista apresentou ao Ministério Público do Estado (MPE-MA), uma representação contra Edivaldo Júnior, para impedir que a Prefeitura continuasse terceirizando serviços de exclusividade de funcionários concursados da Secretaria Municipal de Fazenda (Semfaz).
Caso semelhante é o da jornalista Dalvana Mendes, que atuava na assessoria da ex-vereadora Eidimar Gomes (PSDB), cujo partido faz oposição à administração municipal. Pelo que consta, assim como eu, Davi e Mauro, Mendes nunca teve interesse em ter parceria publicitaria com a atual gestão e já se descartou essa possibilidade por entender que São Luís “merecia mais”. Atualmente a colega de profissão é assessora de imprensa do PRTB, legenda que integrou a coligação da deputada Eliziane Gama (PPS), outra adversária politica do gestor.
Todos estes profissionais que citei sempre estiveram assessorando líderes políticos do campo da oposição, eis a resposta da pergunta: quem está por trás das denúncias são pessoas que nunca estiveram ao lado de Edivaldo como aliados e não compactuam com irregularidades em seu governo. São profissionais que constantemente recebem documentos revelando indícios de irregularidades na administração municipal.
DEVER CÍVICO DE INVESTIGAR
Assim como o prefeito, a Câmara também precisa se pronunciar diante de fatos tão relevantes como estes. O Palácio Pedro Neiva de Santana, sede do Legislativo, terá o dever cívico de investigar a denúncia e mostrar ao vereador Chaguinhas que ele estava equivocado quando declarou, num recente discurso, que a Casa havia se transformado numa espécie de “lavanderia” que servia apenas para “lavar” projetos “sujos” do prefeito. Eu, particularmente, prefiro não acreditar nisso.
Enquanto a Edivaldo, ele sabe que a permanência de Lula Filho em seu governo vai desgastar ainda mais sua imagem e prejudicará de vez sua relação com o Poder Legislativo que desde o inicio da semana vem sendo pressionado pela opinião pública a reagir diante das graves irregularidades. E, aqui cabe ressaltar que não é qualquer denúncia. São graves denúncias, reforçadas com farta documentação, revelando suspeitas de um esquema de sonegação fiscal que ultrapassam os R$ 200 milhões, que só vieram à tona depois da descoberta dos débitos tributários de empresas ligadas ao secretário que misteriosamente ‘desapareceram’ do sistema da Semfaz, conforme vem sendo noticiado. Os recursos, caso fossem aplicados corretamente, poderiam ajudar o próprio prefeito a resolver muitos problemas enfrentados em setores de sua administração, principalmente duas das mais importantes áreas: saúde e educação.
Ao invés de buscar respostas desnecessárias, Edivaldo deveria começar a se perguntar: o que fazer com Lula? Será se antecipar as férias do auxiliar vai resolver? Em tempos de Lava Jato, em que a credibilidade dos políticos está em ruínas e a crença na punição deles cresce na sociedade, o episódio que envolve seu principal secretário não pode ser considerado um mero deslize. É grave.
PUNIÇÃO À CORRUPÇÃO FOI PROMESSA
Ainda lembro do discurso de posse para o primeiro mandato do prefeito Edivaldo Júnior, em 1º de janeiro de 2013, quando o chefe do executivo prometeu que iria tratar corrupção como crime hediondo em seu governo. Ao que parece, essa promessa só funcionou mesmo com os mais fracos e humildes. Tanto é verdade que, ontem, tomei conhecimento, por meio do blog da jornalista Dalvana Mendes, que Júnior resolveu reagir diante do escândalo que recai sobre sua gestão. Sabe como? Parece até piada, mas não é! Edivaldo resolveu demitir dois funcionários por suspeitas de vazamentos dos documentos: um que estava lotado na Semfaz e outro que trabalhava na (CTA) Centro de Tecnologia Avançada, empresa responsável pela terceirização do sigilo fiscal.
A verdade é que além de não se pronunciar publicamente sobre o mais novo escândalo, o prefeito ainda tenta fingir que nada acontece, talvez esteja aguardando o caso virar escândalo nacional para poder vir a público e tentar se justificar. Que ele se desconectou da realidade do seu governo não há dúvidas, mas ainda há tempo para Edivaldo, reconduzido ao posto há pouco mais de seis meses, tentar demonstrar que as punições para casos como esses não devem ficar restritas apenas a funcionários. Ao chefe do executivo restarão duas saídas: exonerar Lula Filho do cargo ou mantê-lo e correr o risco de enfrentar uma CPI na Câmara com possibilidades de ser instalada nas próximas semanas.