Número da frota de transportes rodoviários sem cobradores na Grande São Luís passa dos 25% (Foto: Reprodução)

SÃO LUÍS: A possível extinção da profissão de cobrador de ônibus no sistema de transporte virou um dilema em São Luís. O Sindicato dos Rodoviários do Maranhão divulgou nota na qual confirma para quinta-feira (19), às 10h, a deflagração da Operação Tartaruga na capital maranhense. O movimento é uma resposta contra a demissão dos cobradores de ônibus.

Os defensores da extinção dos agentes de bordo entendem que a medida reduziria o custo das empresas e consórcios que operam linhas na capital maranhense. Além disso, a tendência da população cada vez menos utilizar dinheiro em espécie para realizar operações de pagamentos nos ônibus é outro motivo apontado para acabar com a profissão.

Já os contrários da proposta alegam que o fim deste ofício além de acarretar uma demissão em massa, não significaria redução da tarifa de ônibus para o usuário; poderia afetar a segurança no trânsito, além de provocar atrasos nas viagens, que afastaria ainda mais o usuário do serviço.

Extinção no país

São Luís está longe de ser a primeira capital a considerar a possibilidade de extinguir o posto. Metade das capitais do país já o fizeram. Em Goiânia, há mais de 20 anos todo o transporte coletivo roda sem cobradores. As operações são feitas por meio de pagamento eletrônico. Ao todo, quatro capitais brasileiras extinguiram completamente o cargo de seu sistema rodoviário metropolitano.

Além da capital do Goiás, fazem parte da lista Palmas, Belo Horizonte e Campo Grande. Outras 10 removeram parcialmente o posto, com ausências que vão de 5% a 50% da frota. São elas: Belém, Florianópolis, Fortaleza, Macapá, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória.

A medida também foi adotada em cidades de médio e pequeno porte. Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o posto de cobrador foi totalmente extinto em 33 cidades brasileiras. Em 32, a eliminação foi parcial. Nenhuma delas voltou atrás na decisão.

Na Grande São Luís, desde 2019, 25% da frota de transporte metropolitano circula sem cobradores, atribuindo essa função ao motorista. No início, segundo o sindicato da categoria, somente as linhas alimentadoras, que vão dos bairros aos terminais de integração, não contava com o agente de bordo.

No entanto, com o passar do tempo, e com a ausência de fiscalização, as linhas do trajeto ao centro da capital maranhense também passaram a operar somente com o motorista, gerando transtornos aos passageiros e aos condutores de ônibus.

Transporte público precisa evoluir para reconquistar usuário. Agravada pela pandemia, perda de passageiros nos ônibus urbanos vem sendo registrada a cada ano / Foto: Reprodução

O que explica a extinção?

A retirada dos agentes de bordo pode ser reflexo da queda na demanda de usuários. O esvaziamento do transporte público foi acentuado durante a pandemia de Covid-19, mas é um erro atribuir o problema exclusivamente à crise sanitária.

De acordo com um levantamento da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), a queda no volume de passageiros de ônibus teve início ainda nos anos 1990. O quadro se estabilizou na primeira década do século 21, mas o declínio voltou a partir de 2013. O desafio, portanto, é reconquistar usuários.

Francisco Christovam, presidente da entidade, aponta que a crise sanitária acabou por potencializar o problema. No total, as perdas do setor no país nos últimos dois anos são estimadas em R$ 30 bilhões pela associação.

Os motivos do prejuízo incluem a opção pelo carro, os aplicativos de transporte, falta de qualidade do transporte oferecido, atrasos nas viagens e os chamados “serviços oportunistas”, nicho em que estão as vans que circulam com ou sem autorização Brasil afora.

A retomada, na opinião do dirigente da NTU, passa por melhoria do serviço para atrair passageiros de volta aos modais do transporte público.

Na visão de especialistas, mesmo após a pandemia, o serviço não voltou aos mesmos patamares de antes. Outros meios de deslocamento, além do aumento do trabalho em home office e a educação à distância, estão deixando os bancos cada vez mais vazios nos coletivos. Assim, o número de ônibus necessário tende a reduzir e, por consequência, se reduz a necessidade de trabalhadores [como é o caso dos cobradores] para os veículos.

Falta de segurança, conforto e agilidade afasta usuário do transporte público. Perda de passageiros nos ônibus vem sendo registrada a cada ano / Foto: Reprodução

Risco com a dupla função

Desde 2017, os tribunais superiores vêm se manifestando sobre questões relacionadas ao acúmulo da função de cobrador pelo motorista de ônibus. Recentemente, por exemplo, o STF confirmou uma decisão do TST sobre dupla-função nos transportes ser legal.

Para os ministros, o acúmulo de função de motorista e cobrador é compatível com as atividades do setor e não obriga o empresário de ônibus a pagar salário extra ou bonificação.

A polêmica, entretanto, está longe de ter um fim. Os últimos acidentes em São Luís envolvendo mortes de pedestres e motociclistas acirram o debate. Na manhã de sexta-feira (13), no cruzamento da Avenida Sambaquis com a Avenida Santa Dulce dos Pobres, no bairro Calhau, Vandison Araújo dos Santos, de 29 anos, morreu após bater a moto que pilotava em um coletivo da linha Calhau / Litorânea.

Quatro dias antes, na segunda-feira, dia 9, outro trágico acidente ocorrido na capital vitimou o jovem estudante de Psicologia da UNDB, Artur Sá Coutinho, de 21 anos. O universitário tentava atravessar a Avenida Colares Moreira, no bairro Renascença, em frente à faculdade, quando foi atingido por um ônibus do transporte coletivo da capital.

Para o Sindicato dos Rodoviários do Maranhão, uma das principais causas desses acidentes é fato de que os motoristas de ônibus estão sobrecarregados, exercendo também a função de cobrador.

Motoristas assumem função dupla e alertam para aumento de doenças e de acidentes / Foto: Reprodução

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