Lula e Bolsonaro: um polo se alimentando do outro em meio a uma guerra ideológica conflagrada | Foto: Reprodução

Desde 2014, pelo menos, tornou-se comum dizer que “o Brasil está polarizado”. E, a bem da verdade, é isto mesmo: a partir da disputa violenta das eleições presidenciais daquele ano, entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), que conseguiram afastar a “terceira via” Marina Silva (Rede) com uma campanha pesadíssima de detratação, as coisas só se agravaram nesse sentido.

Aquele ano marcou o início do fenômeno de forma acentuada: foi quando se ouviu falar em “coxinhas” e “mortadelas”, referências aos tucanos e aos petistas daquela disputa, hoje expressões em desuso. A disputa acirrada no segundo turno em que a presidente Dilma buscava uma reeleição contra Aécio e Marina – a ex-ministra do primeiro governo petista resolvera apoiar a oposição – dividiu o País em questões fundamentais, como política econômica, corrupção e modelos de desenvolvimento.

A reeleição da mandatária foi uma vitória de Pirro, em meio a um cenário econômico desafiador e crescentes escândalos de corrupção. No dia seguinte ao resultado das urnas, a oposição mostrou suas garras. Aécio ficou inconformado. Seu partido entrou com pedido de abertura de uma auditoria, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para verificar a lisura do processo eleitoral, embora não tivessem solicitado especificamente uma recontagem de votos. O TSE providenciou a auditoria nas urnas e no sistema de votação eletrônica e concluiu que não havia evidências de fraude que comprometessem a integridade do processo eleitoral. Mas o pedido, em si, já era um sintoma ruim.

Menos de uma semana depois, a oposição “intransigente e incansável” de Aécio já fazia seu primeiro ato, em São Paulo. A crise política que então se prenunciava ganhou fôlego com outra crise, a econômica. Surgiram os pedidos de impeachment, que tornaram Dilma “refém” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ). Até que o líder dos deputados aceitou um deles. E a polarização se mostrou novamente: enquanto quem apoiava o impeachment argumentavam pela legalidade técnica do processo, os governistas acusavam um “golpe”.

O período de Michel Temer (MDB) à frente do País em nada ajudou a acalmar o clima tensionado, até porque seu governo acumulou contra si uma série de denúncias de corrupção, com a Operação Lava Jato tomando conta do pedaço.

Nas eleições de 2018, um Supremo Tribunal Federal (STF) titubeante diante de uma ameaça aberta do então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, levou Lula para a cadeia enquanto ele era favorito nas pesquisas eleitorais. Enquanto isso, nas redes sociais e nos movimentos de rua, o “mito” já despontava com força e reforçando o estigma negativo da esquerda que a Lava Jato gestou. Jair Bolsonaro viria com força.

Naquele ano, portanto, sem poder concorrer à Presidência contra aquele então apenas deputado federal, Lula fez de Fernando Haddad uma espécie de representante legal – a ponto de, injustamente (pela própria competência e capacidade) seu ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo ter ganhado a alcunha de “Poste do Lula”.

O efeito de polarização pôde ser sentido com a evolução da intenção de votos de Haddad tendo menos de um mês de campanha até o primeiro turno. Assim como Marina quatro anos antes, outro “terceira via”, Ciro Gomes (PDT), ficava comendo poeira por conta dos polos.

Capitalizando com a insatisfação do povo com a corrupção e com a violência, e alimentando a divisão com declarações polêmicas – “vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre!”, disse o então futuro presidente em um comício –, o capitão da reserva do Exército venceu as eleições. O poder no Brasil entrava em sua fase mais tensa.

É que o governo Bolsonaro esticaria ao máximo a polarização. A retórica inflamada em relação a questões sociais, ambientais e de direitos humanos, entre outras, com uma equipe de ministros que só colaborava para maiores dissensões, gerou debates acalorados e cortinas de fumaça o tempo todo. Ações do governo, incluindo reformas econômicas, mas principalmente nas abordagens à pandemia, foram constantemente avaliadas de maneira divergente.

Bolsonaro se fez ser alçado, por sua base, à condição de um dom-quixote tupiniquim, lutando contra os moinhos do sistema. Misturava liberdade com posse de armas, democracia “nas quatro linhas” com ultimatos ao Supremo, uma salada que só servia à confusão e ao desgoverno que implantou. A oposição esperava por um oponente para enfrentá-lo. O mesmo que, por coincidência, Bolsonaro também queria. E assim, após ter suas penas anuladas por lambanças processuais da Lava Jato, bem como a suspeição contra o juiz Sergio Moro, aquele que virara ministro, o petista voltou ao ringue.

As eleições de 2022 e suas consequências foram o ápice, até agora, da polarização. A campanha teve morte de petista por bolsonarista, acusações de manipulação de parte a parte e, no fim, Lula venceu o segundo turno. A forma apertada com que isso ocorreu só mostrou como o Brasil estava dividido. Nos meses em seguida, o País passou por uma tentativa de golpe de Estado há muito ensaiada nas manifestações antidemocráticas e, no pós-urnas, levada a cabo após concentrações de “patriotas” em portas de quartéis.

O “nós contra eles” segue. E nem precisa ser mais quando o assunto é política. Um mero filme, como “Barbie”, ou uma multa ambiental a um jogador famoso, como Neymar, já passa pelo viés ideológico de “conservadores” e “progressistas”.

Lula também não mostra nenhum movimento claro para tentar diminuir a tensão nesse sentido. Critica acidamente o bolsonarismo e seu líder. Provoca adversários durante seus discursos – como, aliás, sempre fez. O problema é que o momento seria de distensionar e isso não parece nada factível.

Polarização é algo natural da política. Mas a estabilidade democrática precisa de encontrar formas de diálogo construtivo e de buscar consenso em meio a visões políticas tão divergentes. Senão, fica difícil governar. Essa superação requer um compromisso coletivo com a democracia e a busca por soluções que transcendam as barreiras partidárias.

Da parte de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva eles são os dois polos do Brasil desde aquele 2018. E, no que depender deles, parece que é favorável que, estando ou não diretamente envolvidos no pleito, isso continue ocorrendo. Pior para a Nação. (Com informações de Elder Dias, do Jornal Opção)

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