Jair Bolsonaro, o atual presidente da República que pode, por artimanhas de campanha, se eleger no segundo turno, usa, desde o primeiro mandato, como lema de sua campanha, o slogan fascista “Deus, Pátria e Família”, utilizado por Mussolini e pelos integralistas, em nossa terra, tendo acrescentado a esse tripé, na atual campanha, a tão gasta, mal-usada e distorcida palavra “liberdade”. É o que aponta o professor Francisco Aurélio Ribeiro, escritor e doutor em Letras, em artigo publicado em A Gazeta.
De acordo com a publicação, não está só, pois conseguiu a adesão a seu projeto de manutenção no poder o voto de cinquenta milhões de brasileiros contra cinquenta e seis milhões de seu adversário, o ex-presidente Lula. Não se pode deixar de levar em conta que os eleitores brasileiros são cento e cinquenta e seis milhões de pessoas. Portanto, um terço apoia o atual presidente e dois terços não o apoiam, pois votaram contra, em branco, nulo ou deixaram de votar.
No próximo domingo (30), saberemos o resultado dessa disputa tão acirrada, o país está rachado, os ânimos alterados, as redes sociais pegando fogo, os debates parecem brigas de velhos galos raivosos numa rinha televisiva, atualização modernosa da ágora ateniense.
Nunca se discutiu tanto religião como nesta campanha, o que não deveria acontecer, pois religião e política não se deveriam misturar. Lugar de padre e pastor é na igreja, cada qual com sua crença e seus fiéis. Busca-se voto de católico, disputa-se voto de evangélico, critica-se a ida a templos de religiões de matrizes africanas, ou seja, vive-se, nos tempos atuais, uma rivalidade entre religiões como não se via desde as guerras entre católicos e protestantes, cristãos e muçulmanos, xiitas e sunitas e por aí vai.
O que deveria estar sendo discutido são os projetos para o país: como melhorar a educação, a saúde, a segurança, empregos, mobilidade, transportes e a relação com o Congresso e o Poder Judiciário, bastante abalada neste desgoverno bolsonarista.
Patriotismo voltou a ser mote de campanha, coisa que não se via desde o golpe militar de 64 e a ditadura getulista. Os bolsonaristas se vestem de verde e amarelo como não acontecia desde a campanha pelas Diretas Já, em 1984, que derrubou a ditadura militar, e saem em bando portando bandeiras nacionais, intitulando-se os verdadeiros brasileiros, como se os outros, que usam roupas vermelhas, azuis, brancas ou pretas, também não o fossem.
A bandeira brasileira é um dos símbolos do nosso país e não de um partido político, de uma facção ideológica ou de um líder que reproduz ipsis litteris palavras, ideias e ações de Mussolini, inventor da motociata. Já sabemos como isso termina. E o final é trágico. A história se repete, e como farsa.
Por último, família e liberdade. De que família os bolsonaristas falam? Do modelo do atual presidente? Filhos com diversas esposas, atual esposa que renega filha de outra relação? É isso exemplo de família evangélica, de que ela tanto se vangloria? Vade, retro. Famílias são de todo tipo e diversidades, uniões civis, estáveis ou temporárias, ou seja, não existe nenhum modelo familiar a ser recomendado em um país diverso, plural e multicultural e um estado laico como o nosso.
O diferente é fascismo. Para os que não sabem o que é, esclareço: fascismo é uma ideologia politica ultranacionalista e autoritária, com ênfase no militarismo, obsessão pela segurança nacional, supervalorização ao nacionalismo (“Brasil acima de todos”), desprezo aos direitos humanos, aos intelectuais, aos artistas e à ciência, controle da mídia e censura à liberdade de expressão, uso da religião como forma de manipulação (“Deus acima de tudo”) e apologia ao totalitarismo e ao corporativismo.
Alguma semelhança com o atual presidente não é mera coincidência. Quanto à liberdade, nunca a tivemos tanto. Até a atual, de pregar a volta ao regime totalitário para acabar com a liberdade de expressão, a liberdade de ir e vir, a liberdade de pensar e de viver diferente e a independência dos poderes. Vejamos, então, o que a maioria dos eleitores escolherão para o nosso país: avanço ou retrocesso a um tempo tenebroso que deveria estar morto e sepultado.
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