Consagrado direito dos trabalhadores, manifestação legítima de cobrança e valorização do fruto de seu suor, a greve se torna um instrumento de negociação delicado e polêmico, quando envolve a prestação de serviços essenciais à população. Profissionais de diversos setores, ao paralisar suas atividades, ou reduzi-las para níveis abaixo do necessário para atender às demandas coletivas, entram em choque não apenas com patrões, dirigentes, governos, e eventualmente com a Justiça. O confronto aberto se estende ao público que é a razão de ser daquilo que fazem

Cidadãos que não têm nada a ver com o problema terminam pagando a conta, no caso de suspensão de serviços de saúde, educação, segurança, transporte de cargas ou de lixo, abastecimento de combustíveis, de energia ou de água, por exemplo. A vida contemporânea é complexa, e se consuma numa rede intrincada de relações da qual todos dependemos, com raras exceções e chances de autonomia.

Como se noticia diariamente, o transporte rodoviário de passageiros na Região Metropolitana de São Luís é ineficiente, sem oferecer o conforto mínimo aos usuários, que reclamam do serviço mal prestado por gerações, há décadas. O custo do sistema é caro, para a população que dele precisa fazer uso, sem outra alternativa de locomoção de massa no espaço urbano.

O VLT, que custou R$ 7 milhões, seria uma solução viável, mais o investimento que seria solução de transporte público na cidade acabou virando exemplo de desperdício e o elefante branco foi levado ao galpão está guardado à espera de um uso adequado.

Sem um novo modal, os ônibus ficam superlotados, assim como os terminais, numa rotina de linhas insuficientes e veículos desconfortáveis onde os passageiros cumprem viagens penosas, caracterizadas da partida até a chegada pela demora, o estresse e a insegurança.

A greve dos rodoviários que atinge a capital maranhense nesta quinta-feira, 21 de outubro de 2021, traz como fundamento um reajuste nos salários 13%, vale-alimentação de R$ 800, jornada de seis horas por dia, auxílio-creche para trabalhadores com filhos pequenos e manutenção do plano de saúde mais a inclusão de um dependente. As empresas querem reduzir custos, os profissionais, manter seus ganhos e ignorando a qualidade do serviço. Infelizmente a discussão sobre a eficiência permanece em segundo plano.

 Vista de um terminal de ônibus durante paralisação de motoristas e cobradores. Rodoviários reivindicam reajuste salarial. (Foto: Reprodução)

A crise econômica como efeito da pandemia exerce pressão dos dois lados, tendo a mediação dificultada pela natureza de um sistema metropolitano sem gestão metropolitana. Se os vereadores de São Luís aprovam [ou reprovam] a proibição da dupla função, isso não vale automaticamente para as demais cidades integrantes das rotas. A decisão caberá à Justiça, enquanto o movimento grevista é deflagrado, e a população, mais uma vez, vem sendo prejudicada.

O transporte coletivo é fundamental para equilibrar a economia e o ambiente das cidades, mas a dependência desse único modal na capital maranhense traz consequências com a paralisação dos rodoviários e situação afeta economia. Se as melhorias necessárias são muitas, a saída para reconquistar usuários passa por um verbo ainda pouco usado pelo poder público: priorizar. Para especialistas, só será possível melhorar o transporte público — e, consequentemente, a mobilidade urbana da cidade — se o assunto assumir caráter de urgência nas políticas públicas.

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