Problemas de saúde são como um freio na vida das pessoas. Mesmo as doenças mais leves têm impacto no trabalho e nas atividades cotidianas, até mesmo para quem tem condições financeiras ou planos de saúde para arcar com tratamentos. Imagine, então, quem depende dos serviços públicos?
Na semana passada, um artigo publicado pelo portal de notícias A Gazeta, editado em Vitória, capital do Espírito Santo, mostra a saga de um morador do estado que aguarda um exame e também uma consulta com neurologista e ortopedista desde 2018.
“Tenho muita dificuldade de andar de ônibus em pé por falta de força para segurar”, lamenta Braz Ferreira da Silva, que não consegue tratamento para a síndrome do túnel do carpo e para uma dor no pescoço que reduz a força nos braços e nas mãos. Aguarda desde 2018 por consultas e exames com especialistas em ortopedia e neurologia, mas vive desde então à base de medicamentos paliativos, cerca de 20 por dia.
O caso e os de outros pacientes que aguardam exames e consultas no Brasil, inclusive, no Maranhão, revelam que as razões para tanta espera, podendo chegar a cinco anos, é estrutural, como a falta de substituição de especialistas, mas também parece haver falhas na organização dos agendamentos.
Para conseguir encaminhamento a especialistas no Sistem Único de Saúde (SUS), primeiro o paciente é atendido por um clínico geral em uma unidade de saúde do município, que o encaminha ao médico especializado, normalmente na rede estadual. É preciso descobrir em que fase desse processo as solicitações se represam, seja por demanda elevada, seja por algum tipo de ineficiência.
Afinal, o acesso à saúde é um direito do cidadão brasileiro, mas da forma como vem sendo retratado na imprensa, constata-se que quem precisa de tratamento encontra muitos obstáculos. É como, por exemplo, ocorre na Central de Marcação de Consultas (CEMARC) de São Luís onde constantemente a marcação de consultas e exames tem gerado reclamação e revolta.
Muitas pessoas chegam a dormir na fila para conseguir um atendimento e na maioria das vezes, faltam senha para muitas especialidades. Em 2021, dona Rosa Maria de Lima, de 75 anos, chegou pela madrugada, sentou na calçada e dormiu na fila do posto da CEMARC que fica no prédio da APAE, no bairro Outeiro da Cruz, em busca de uma especialidade.
“Se a gente vir nesse horário, 4h30 a gente ainda consegue se a gente vir mais de 4h30, às vezes não tem mais e quando chega lá já terminou”, disse.
Uma longa fila de idosos é formada todos os dias em frente a CEMARC. Pessoas que por conta da idade possuem prioridade, mas na maioria das vezes, precisam ficar por horas em pé e sem a garantia de que irão conseguir o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“É triste, viu? A gente está aqui desde 4h e não sabe nem se consegue. A gente vem e quando chega ali e volta. É triste isso aqui! A gente chega de madrugada e fica sentado, dormindo pelas calçadas para conseguir fazer um exame às vezes não consegue. Isso é muito triste”, desabafa Maria da Natividade Silva, dona de casa.
A verdade é que a busca por tratamento médico não pode continuar sendo um motivo de adoecimento para tantas pessoas que dependem da saúde pública, ainda mais quando as pessoas que buscam marcar consulta são os próprios pacientes que saem doentes de casa, situação semelhante à da lavradora Socorro Morais Campos que faz hemodiálise e relata que costuma enfrentar fila para conseguir marcar uma consulta.
“A gente tem que ficar, tem que aguardar se não a gente não consegue. Eles não querem. Meu marido vem e eles não aceitam, tem que vir eu mesma”, disse.
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