O Maranhão é o 2º Estado em maior número de casamentos na infância e na adolescência, de acordo com pesquisa feita pelas Organizações Não-Governamentais (ONGs) Plan Brasil Internacional e Instituto Promundo, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA).
Os números referem-se a casamentos entre crianças e adolescentes com idades entre 10 e 19 anos. O estado maranhese possui 83.584 uniões do tipo, atrás apenas do Pará, com 99.482. O Brasil é o quarto país do ranking, atrás apenas da Índia (1º), Bangladesh (2º) e Nigéria (3º).
O local escolhido para a pesquisa em São Luís foi a Área Itaqui-Bacanga, considerada uma das mais populosas da capital maranhense.O estudo durou quatro meses e, além dos números, revelam um perfil social que parece invisível.
“No Brasil, o fenômeno é mais ligado na adolescência mesmo. Então, meninas com menos de 18 anos. Pra nós, é importante não fechar os olhos. Esse fenômeno existe e, para nós, a coisa mais importante, é que exista informação e formação sobre isso, sobretudo para as meninas poderem entender que existem outros caminhos na vida. De repente, uma opção diferente do casamento que pode ser continuar os estudos, pensar um futuro, uma autonomia, uma realização de pessoas”, disse o diretor de Programas da Pan, Luca Sinesi.
Fuga
O que leva meninas tão jovens a casar tão cedo? As ONGs acreditam que os motivos sejam fuga da pobreza, expectativa de liberdade, falta de qualidade na educação, busca de liberdade sexual e até uma gravidez indesejada.
Diante de fatores como esses o casamento surge como único caminho a seguir. E assim elas vão pulando etapas da vida, viram esposas, donas de casa, mães. A adolescência fica perdida no tempo, irrecuperável.
Essas normas que fazem com que as meninas pensem que casar e ser mãe são o principal objetivo de vida precisam ser questionadas, pra que essas meninas entendam que a escola, que a profissão, que outros caminhos são fundamentais pra vida dela também. É muito importantes questionar as normas de masculinidade. Por que que esses homens estão escolhendo casar com meninas mais novas? Por que que esses homens olham o corpo de uma menina jovem como o corpo ideal, o corpo desejável? Porque isso dá status, porque isso faz com que eles se sintam mais poderosos, porque eles querem ter o controle sobre uma pessoa sem autonomia”, diz a integrante do Institudo Promundo, Letícia Serafim.
A dona de casa Lohana Vilar, de 19 anos, conta que casou a primeira vez aos 16 e hoje tem duas filhas pequenas. “Quando eu casei a primeira vez eu tinha 16 anos. Eu que tinha que lavar, eu que tinha que cozinhar, então não tinha minha mãe, não tinha minha avó pra fazer aquilo por mim, quem tinha que fazer era eu. Depois veio a filha e aí interferiu na minha faculdade, interferiu em um emprego porque eu não podia deixar ela, uma bebezinha de colo, pra ir estudar, ir trabalhar”, conta.
É com um olhar no passado que Lohana começa a entender não só o que não viveu, mas também os sonhos que ainda pode construir. “O sonho continua. Continua assim, porque eu tenho eles [os filhos], então eu tenho que dar um futuro melhor pra eles. Apesar de eu ter me adiantado com muita coisa, então eu não quero que eles sofram as consequências do que eu fiz no ontem. Tenho que pensar no meu futuro e no futuro deles também”, acredita.