A situação do presidente da República, Michel Temer (PMDB), ainda é considerada delicada. Mas após discurso incisivo, na tarde de ontem (19), em que rebateu as críticas contra ele e disse que “não renunciaria”, Temer vai apostar em uma nova estrategia a partir de hoje, ou seja, a de desqualificar o áudio, divulgado no início da noite de ontem (ouça aqui) em que conversa, de forma aberta, sobre acordos feitos pelo empresário Joesley Batista com membros do Judiciário e Legislativo. O presidente da República deverá fazer novo pronunciamento hoje. Não se sabe qual será o teor do eventual discurso.

Ao dizer que “a montanha pariu um rato”, a base aliada quer dizer – em resumo – que foi “muito grito” por nada. Não foi. É possível entender que o trecho citado um dia antes pelo colunista de O Globo, Lauro Jardim, de que “tem que manter isso, viu?” não seja o mais grave na gravação. Mas também afirmar que a conversa não representa nada é um pouco demais.

Pelo menos seis partidos importantes (PSOL, PC do B, PDT, PT, PSB e Rede) se manifestaram favoráveis à saída imediata de Temer. O partido Podemos (antigo PTN) também anunciou que deixará base de apoio ao presidente. O fiel da balança neste processo, o PSDB, começa a sinalizar uma reaproximação, após a licença mais que necessária e pertinente do então presidente nacional da legenda tucana, Aécio Neves, também acusado de receber propina da JBS. O presidente interino do partido, Tasso Jereissati – como todo político experiente – costura nos bastidores uma forma de manter certo apoio à Temer e, ao mesmo tempo, não partir para o time da debandada. Para isso, Tasso precisa acalmar os ânimos dos próprios tucanos que, internamente, estão divididos quanto ao tema.

Resta dizer que, caso Temer sobreviva aos próximos dias, ainda haverá na frente uma enorme “pedra no sapato” que, antes, não preocupava o Planalto: o tal julgamento pela corte eleitoral da chapa Dilma-Temer. Na própria gravação com Joesley, cujo trecho foi divulgado hoje, Temer não demonstra qualquer preocupação com  o julgamento. Hoje, o pensamento parece ter mudado.

TRECHO EM QUE TEMER CITA O TSE

— É um troço meio maluco, eu não sei o que vai levar. Primeiro que eu acho que não passa o negócio da minha cassação, isso não passa, porque eles (ministros) têm uma consciência política. Sabe, porra, mais um presidente… (inaudível). Tem também a improcedência da ação. (inaudível) E tem recurso no TSE, recurso no Supremo… Isso aí já terminou o mandato.