Após ida ao Complexo da Maré sem escolta, Flávio Dino respondeu às insinuações sobre o seu envolvimento com crime organizado

A visita do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), à favela Nova Holanda, que faz parte do Complexo da Maré, para participar de um evento e ouvir lideranças locais na última segunda-feira (13), trouxe à tona, mais uma vez, o racismo e o preconceito pautados com fake news e ódio por aqueles que costumam atacar quem convive ou mora nessas localidades.

É o caso, por exemplo, do deputado Yglésio Moyses (PSB) que chamou a atenção nesta quinta-feira (16) para a entrada “tranquila” do ministro na comunidade, chamando o complexo de uma das “favelas mais armadas do Rio”. Em discurso na Assembleia Legislativa, o deputado diz que acredita haver “canal de diálogo” de “alguém no ministério” com facções que dominam área.

Favelas não deveriam existir, claro. A miséria não é aceitável nem negociável. Romantizar a pobreza não faz justiça a quem dela vem e não aponta caminhos possíveis, mas aqui precisamos parar e refletir. O que não deveria existir é a favela como sinônimo de precariedade, mas as relações de sociabilidade construídas nestes locais são motivo de orgulho para quem mora lá. O que precisamos entender é quem exatamente se sentiu ofendido com a visita de Flávio Dino ao Complexo da Maré: quem associa favela a uma coisa vergonhosa ou quem nela mora? Fazer essa diferenciação é fundamental.

Cabe destacar que essa não é a primeira vez que tentam criminalizar favelas disseminando desinformação. Na campanha do ano passado foi a mesma coisa com a visita de Lula ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O debate político do bolsonarismo não é à esquerda ou seus adversários, mas ao povo da periferia, que na maioria das vezes, não se identifica com as pautas do bolsonarismo.

Ex-petista, deputado estadual Yglésio Moyses ataca Flávio Dino com acusação falsa após agenda na Maré.

Mas o que exatamente incomoda quando alguém se diz incomodado com a imagem de uma favela? A imagem da favela em si ou a precariedade e a injustiça social que fizeram ela nascer?

Em uma relação intimista com o tema, ao interpretar Aba Reta, o cantor Igor Kannário descreve, a relação preconceituosa que à primeira vista muitos tem com a favela e por conseguinte, com o favelado. Diz sua letra, o seguinte:

“Se meu traje te incomoda

Lá no gueto eu tô na moda

Se minhas gírias te ofendem

Todos lá me compreendem

Meu caráter anda comigo

Quem vê cara, não vê coração

O que é que aba reta tem a ver com ser ladrão?

Só queria entender, alguém pode explicar

O que tem de errado com meu jeito de andar

Sou da periferia, mas também sou irmão

Preconceito gera violência

Se ligue na ideia, negão!

Aba reta e um bermudão

Mão na cabeça, deve ser ladrão

Tá de terno e paletó

O cara é santinho, primo do major

Coloquei minha Cyclone e a Kenner no pé

Pegada segura que é da ralé

Quando essa gente vai entender

Minha roupa não muda o meu jeito de ser!”

Favela não é sinônimo de banditismo! Favelado também não é bandido! Debates como esses se faz arrancando a dignidade das pessoas. Imaginem a situação de uma pessoa que mora em favela e assiste deputados menosprezando sua existência em redes sociais ou em discursos nas Casas Legislativas? Ou seja: saber que sua morte, prisão ou marginalização pode render votos para um projeto político que usa o preconceito como estratégia.

Esse discurso de criminalizar as favelas e seus moradores é muito mais grave do que se supõe. É um claro sinal de que, para aqueles que compactuam com essa criminalização, a vida das pessoas que ali moram não tem o menor valor; que elas não têm direitos e que podem ser eliminadas. É uma senha para o extermínio.

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