A Qualitech Engenharia Ltda, que completou 30 anos no último mês de agosto, ultrapassou as fronteiras do Maranhão com êxito. Em 2023, ao celebrar três décadas de atividade, a empresa sediada no município maranhense de Paço do Lumiar, começou a despertar ciumeira no segmento do Pará.
De pequena personagem no mercado das construtoras, a Qualitech vem se transformando em uma das maiores prestadoras de serviços nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. A empreiteira, que cresce no vácuo deixado pela Lava-Jato, vem silenciosamente abocanhando muita coisa, mas também desperta a concorrência.
Após faturar R$ 1 bilhão no Maranhão, a companhia ampliou suas operações para os estados do Amazonas, Pará e Acre – onde entrou na mira do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AC) e virou alvo até de alguns pedidos de CPI para investigar possíveis irregularidades em contratos com a Secretaria de Estado de Educação (SEE).
Crescendo no vácuo da Lava-Jato
Com um capital social de R$ 17,7 milhões, a empresa familiar, que foi fundada em 1993, tem em seu quadro societário Flávio Henrique Silva Campos e Frederico de Abreu Silva Campos. Nas redes sociais, o segundo se refere ao primeiro como ‘pai’. Nos documentos pessoais, entretanto, não consta o nome do genitor.
A construtora está registrada na Estrada do Sitio Grande, nº 1000, Loja 11, Sitio Grande, em Paço do Lumiar-MA. Ela chegou ao 30º aniversário, atuando em obras pesadas, incluindo rodovias, pavimentação urbana, saneamento, construção civil, dentre outros.
O crescimento da Qualitech pode estar relacionado à lacuna deixada pela falta de atuação de grandes empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato, o que teria contribuído para abrir espaço para construtoras de menor porte.
A explicação para isso é simples, pois a disputa por obras, mesmo no setor privado, seria muito mais difícil se não existisse a Lava-Jato. No período em que as grandes empreiteiras do país recuaram, isso possibilitou o avanço de outras de menor porte, como é o caso da empreiteira maranhense.
No Pará, por exemplo, onde a Qualitech fatura mais de R$ 200 milhões em projetos, dizem que a empreiteira conta com padrinhos políticos fortes. O estado paraense é governado por Helder Barbalho, que é irmão do ministro das Cidades, Jader Filho. Os dois são filhos do senador Jader Barbalho (MDB-PA).
Por lá, a construtora virou uma espécie de ‘papa-tudo’ e vem abocanhando contratos na Defensoria Pública (R$ 3,9 milhões), Polícia Civil (R$ 8,4 milhões), Detran (R$ 55 milhões), Hospital das Clínicas – HC (R$ 5 milhões), Seduc (R$ 25 milhões), Sedecti (R$ 23 milhões), Secult (R$ 7,5 milhões), Prodepa (R$ 4 milhões) e Jucepa (R$ 2 milhões), dinheiro do pobre contribuinte paraense que será catapultado direto para os cofres da empreiteira de Fred Campos.
Bloco para conter avanço
Assim como no Maranhão, o governo do estado vizinho deixou a Qualitech “vitaminada” e com “musculatura”. Em Belém, para conter o avanço da firma maranhense, as empresas paraenses formaram um bloco e foram para cima do prefeito Edmilson Rodrigues visando inabilitar a Qualitech Engenharia na licitação das reformas das praças da capital. Após o movimento, a Secretaria Municipal de Urbanismo tornou a Qualitech inabilitada e impediu que ela ganhasse a licitação no valor de R$ 100 milhões.
A estratégia, entretanto, não impediu que a empresa maranhense seguisse faturando alto na gestão da capital paraense, conforme levantamento fotográfico de algumas placas das principais obras espalhadas pelo município. Na gestão belemense, somente a reforma dos Mercados Municipais é R$ 50 milhões.
Além do governo estadual, a empreiteira maranhense tem contratos com a Santa Casa de Misericórdia e Hospital Ofir Loyola. No tocante a prefeituras, além de Belém ela está presente em Parauapebas, Ananindeua e Altamira.
‘Carona escandalosa’
No Amazonas, a empresa também fatura alto. No fim do ano passado, a prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria de Educação (Semed), publicou 11 contratos no Diário Oficial do Município (DOM), totalizando mais de R$ 52 milhões em gastos. Deste total, quatro contratos sofreram aditivos e foram prorrogados por mais 12 meses. A Qualitech foi beneficiada com proposta no valor global de R$ 20,9 milhões.
Já no Acre o contrato soma R$ 24 milhões. Em quase todos os casos, as propostas firmadas ocorrem pela modalidade de ‘carona’ usando a Ata de Registro de Preços nº 34/2021 – CSL/Segov, resultado da Concorrência Pública nº 11/2021, feita pela Secretaria de Governo do Maranhão.
Mais de 90% dos contratos são públicos
Considerada uma empresa de médio e pequeno porte, a Qualitech tem mais de 1 bilhão de reais em contratos no Maranhão. A maior parte de seus contratos, mais de 90%, são públicos. Entre as obras públicas em que já atuou estão reformas na Uema, rodovias, escolas, unidades de saúde, dentre outros empreendimentos na capital e interior do estado. Além do governo, a empresa também possui contratos com a prefeitura de São Luís e atua em diversos municípios maranhenses. Clique aqui e confira alguns dos contratos da empresa entre 2015 a 2022 no Maranhão.
Recentemente, durante uma solenidade para retomada das obras do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) – Sustentabilidade e Desenvolvimento no Maranhão, a companhia foi anunciada como responsável pela instalação de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) que atenderá o Residencial Magno Cruz I, II e III, em São José de Ribamar.
A ordem de serviço no valor de mais de R$ 1 milhão foi assinada pelo governador Carlos Brandão e pelo ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho. Ao todo, os investimentos do PAC no estado, somam mais de R$ 47 milhões em recursos federais e estaduais para obras de esgotamento sanitário, hidrometração e estação de tratamento de esgoto na Grande Ilha.
A presença do ministro no estado maranhense ajudou a ampliar uma teoria muito forte no Pará, onde os mais atentos aos fatos afirmam que as obras do PAC no Maranhão que a Qualitech assumiu não foram via Palácio dos Leões, pois os empreendimentos do programa do governo federal nos municípios são direcionados pelo Ministério das Cidades. E quem é o ministro das Cidades? Irmão do governador paraense, onde a firma luminense passou a faturar alto com novos projetos. Coincidência? Nunca!
Foco em Brasília
É por essas e outras que os comentários nos bastidores da política apontam que o jovem advogado e empresário Fred Campos teria consciência da musculatura política e financeira que adquiriu nos últimos anos.
Por isso, segundo as informações que circulam nos corredores do poder, ele já não deseja mais ser prefeito de Paço do Lumiar, pois começou a vislumbrar um mandato de deputado federal, apostando em expandir ainda mais os negócios pelo Brasil.
Com o poder de fogo que possui atualmente, o empreiteiro pode chegar fácil a Brasília nas eleições de 2026, com domicilio no Maranhão, mas sem deixar de contar com um forte ‘empurrão’ vindo do Pará e estados vizinhos.
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