Há treze anos, a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, foi palco do maior incêndio – em número de mortos – do estado e o segundo maior da história do Brasil. O fogo que consumiu parte da boate Kiss, situada no centro da cidade, matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos – a maioria deles intoxicada pela fumaça.
Até o incêndio na Kiss, o país não tinha uma legislação que concentrasse todas as normas relativas à concessão de alvarás para o funcionamento de locais com grande concentração ou circulação de pessoas. E isso só mudou em 2017, quando o ex-presidente Michel Temer sancionou a Lei 13.425/2017, conhecida como Lei Kiss.
No Maranhão, o Corpo de Bombeiros Militar ainda não cumpre a norma. Passados sete anos desde que a determinação federal entrou em vigor, o site da corporação no estado segue sem disponibilizar aos cidadãos as informações sobre alvarás de licença ou autorização, ou documento equivalente, laudos ou documento similar concedidos a estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público, com atividades permanentes ou temporárias.
Essa descoberta só veio à tona em virtude do lamentável incêndio ocorrido, na tarde da última terça-feira (07), nas salas do Cinesystem, no Rio Anil Shopping, deixando 2 mortos e 13 feridos. Ao pesquisar o site da instituição para ter acesso aos laudos de vistorias do estabelecimento acabamos descobrindo que a corporação não vem cumprindo com a referida legislação.
O que diz a lei?
Um especialista ouvido pelo blog na condição de reserva, destacou que a Lei nº 13.425/2017, instituiu um importante meio de Controle Social quanto à observância de regras de combate a incêndios e desastres das edificações públicas e privadas.
“A medida visa promover mais segurança aos funcionários, colaboradores, consumidores e demais frequentadores de estabelecimentos industriais e comerciais do Maranhão. Por exemplo, eu para ir a um show no final de semana, poderia acessar o site da corporação e visualizar como consumidor se o local estava pronto ou não para receber o evento naquelas questões que tratam das normas de segurança amparadas pelo Corpo de Bombeiros”, disse.
Ele explica que o artigo 10 da Lei nº 13.425/2017 prevê que o poder público municipal e o Corpo de Bombeiros Militar manterão disponíveis na rede mundial de computadores, as informações completas sobre todos os alvarás de licença, autorização, laudos ou documento equivalentes concedidos a estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público, com atividades permanentes ou temporárias.
Ação por fiscalização
Na última quarta-feira revelamos detalhes sobre a Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público para obrigar o Município de São Luís a cumprir as determinações da Lei Boate Kiss. Em dezembro de 2020, a Prefeitura foi condenada a realizar ampla fiscalização de todos os estabelecimentos de diversão e similares edificados na capital, para identificar sua conformidade com a legislação urbanística vigente, notadamente quanto às normas referentes a riscos de incêndios, interditando todos os que apresentem desconformidades.
Na mesma sentença judicial, proferida pela Vara de Interesses Difusos e Coletivos, o Município de São Luís foi obrigado a elaborar cadastro dos estabelecimentos e áreas de reunião de público, definidos na lei, disponibilizando dados sobre alvarás de licença, autorização, laudos ou documentos equivalentes, com ampla transparência e acesso à população.
Além disso, a Prefeitura também foi condenada a se abster de emitir qualquer alvará ou autorização de funcionamento para estabelecimentos, sem prévia vistoria quanto ao risco de incêndio. Após a decisão judicial, a administração municipal recorreu e o processo encontra-se no Tribunal de Justiça do Maranhão.
Coronel é questionado
Nesta quinta-feira, 9, o comandante do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBM-MA), coronel Célio Roberto, por telefone, participou da reunião com o procurador-geral de justiça, Eduardo Nicolau, os advogados do Shopping Rio Anil e os deputados Neto Evangelista e Rodrigo Lago para discutir a situação do shopping e das vítimas do incêndio.
Questionado pelo procurador-geral de justiça sobre os laudos de vistoria, o coronel garantiu que o Rio Anil, bem como os outros shopping centers de São Luís, tem passado pelas fiscalizações necessárias. Ele se comprometeu a encaminhar todos os laudos de vistoria ao Ministério Público, sendo que a lei federal obriga essa disponibilização na internet para qualquer cidadão verificar.
Outro desrespeito
Além da Lei Kiss, o Maranhão também possui norma de adequação contra incêndio. Trata-se da Lei nº 11.390, de 21 de dezembro de 2020, que institui o regulamento de segurança no âmbito do estado. Assim como a lei federal, a corporação também não cumpre o que determina a legislação estadual e desrespeita sua própria Norma Técnica nº 02/2021/CBMMA, mas esse é um assunto para a próxima matéria.
Em tempos de desinformação e pandemia, o blog do Isaías Rocha reforça o compromisso com o jornalismo maranhense, profissional e de qualidade. Nossa página produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.
Deixe um comentário