Quando foi divulgada a pesquisa do Instituto Escutec para governador, nessa quinta-feira (7), a grande curiosidade dos analistas era detectar eventuais efeitos sobre as intenções de voto decorrentes da situação do estado de saúde do governador Carlos Brandão (PSB) ou das ações de seu governo, principalmente, relacionadas a obras do programa Mais Asfalto na capital e no interior.
Dado que o foco principal estava voltado para esse aspecto, passou despercebido um relevante resultado mostrado pelo levantamento: a razão voto espontâneo/voto estimulado.
Veja-se, inicialmente, à guisa de ilustração desse ponto, a eleição para prefeito de São Luís em 2016, quando a hoje senadora Eliziane Gama (Cidadania) iniciou o pleito desfrutando de uma boa 2ª colocação com margem de 20,9% contra 35,5% do então prefeito Edivaldo Júnior (PSD), conforme amostragem estimulada da época.
Relembrar é preciso
O problema, entretanto, é que nas pesquisas espontâneas, fundamentais para uma análise que pretenda refletir sobre os prováveis resultados das eleições, Eliziane sempre apareceu com 6,89% e, em alguns cenários chegava a ser superada até pelo deputado Wellington do Curso com 7,59%. O ex-prefeito Edivaldo liderava com 14,31% o voto espontâneo.
Na época, à medida que o tempo iria passando, aproximando-se da data do pleito (02/10), as intenções de voto aos candidatos na espontânea também começavam convergindo para os números da estimulada.
Este é um padrão básico das pesquisas eleitorais: com o tempo, a campanha passa a entrar no clima, os pré-candidatos oficializam suas candidaturas, o horário eleitoral começa a viger, os candidatos vão ficando mais conhecidos, seus nomes vão se cristalizando na mente dos eleitores, as preferências vão se revelando e o voto vai se consolidando.
Bem mais à frente, às vésperas da eleição, os dois votos – o espontâneo e o estimulado – se tornam bem próximos um do outro. De fato, vê-se naquele pleito de 2016 que no levantamento realizado antes do dia da votação, as intenções espontâneas de voto representavam para os principais candidatos, em média, aproximadamente 80% das intenções estimuladas de voto.
Bem, tudo isso para mostrar que esses patamares de convergência ainda não foram alcançados ou ultrapassados pelos três principais candidatos ao Palácio dos Leões, diferentemente do padrão comum.
Com efeito, na pesquisa Escutec, o voto espontâneo para Brandão, Weverton e Lahesio, a quase três meses das eleições, representa, em média, metade do voto estimulado. Nesse ponto, a quantidade de eleitores que pretende votar em “Nenhum” é de 55%, superando os pretensos eleitores de quase todos eles juntos.
O que significa isso? Os nomes dos pré-candidatos ainda não incorporaram à paisagem, mas o ex-prefeito de São Pedro dos Crentes já começa ser lembrado espontaneamente pelos eleitores e, ato contínuo, referendado por intenções de voto, fazendo com que ele comece a ser internalizado na mente dos eleitores. O voto aí é consolidado, resiliente, mais refratário a flutuações, próximo à decisão de voto.
Como explicar?
No limite, in extremis, apenas para enfatizar o argumento, isso explica o fato de Lahesio ter sido o único com melhor desempenho até aqui, pois desde que entrou na disputa, ele saiu de 1% e hoje alcança quase 20% de intenção de voto. Mas, afinal, o que vem motivando seu crescimento? É a militância virtual, o fator do bolsonarismo ou uma aposta do eleitor maranhense numa espécie de outsider?
O voto espontâneo, a que se fez alusão acima, é importante também como elemento auxiliar de detecção da volatilidade do voto, um fenômeno que vem se consolidando nas eleições brasileiras: a paulatina mudança de comportamento do eleitorado que, cada vez mais, posterga sua decisão de voto para os dias finais das eleições, às vezes até para a hora de votar.
Por exemplo, no pleito de 2016, em São Luís, chegou-se nas pesquisas de véspera com uma média entre 15% a 20% de eleitores que se declararam indecisos (NS/NR/Nenhum), na modalidade espontânea. A indefinição do pleito chegou ao fim no dia da eleição com a surpreendente votação em Eduardo Braide (sem partido), que saiu de 2,6% para 21,34%, ultrapassando Wellington do Curso (PSC) com 19,80%, na disputa do 2º turno contra Edivaldo Júnior (PSD) com 45,66%. Os resultados de pesquisas em pleitos mais recentes mostram padrão semelhante.
A pesquisa espontânea não é focada pela imprensa, talvez porque ela, de um modo geral, é muito diferente da pesquisa estimulada. Nesta perspectiva, pode-se considerar que qualquer análise realizada com base nas pesquisas estimuladas deve ser relativizada, uma vez que ela não representa efetivamente uma simulação da eleição. Somente a pesquisa espontânea poderia fundamentar uma análise que pretenda refletir sobre os prováveis resultados das eleições.
As intenções de voto divulgadas pela mídia correspondem às pesquisas estimuladas, onde os nomes dos candidatos são apresentados para a escolha do eleitor. Ora, esse tipo de pesquisa era realmente uma simulação da eleição na época em que eram utilizadas cédulas com os nomes dos candidatos.
Entretanto, com a urna eletrônica isso não acontece mais. Os nomes dos candidatos não aparecem na tela da urna e o eleitor tem que saber com antecedência qual o candidato da sua preferência para digitar o seu número. Neste caso, a simulação da eleição só pode ser feita com a pesquisa espontânea, sem a apresentação dos nomes dos candidatos.
Conhecidos e desconhecidos
Se analisarmos a consulta da Escutec, na pesquisa espontânea, teremos um diagnóstico mais claro. Considerando a margem de erro de 2,19% da pesquisa, somente Brandão com 12%, Weverton e Lahesio, com 10%, poderiam afirmar ter sido efetivamente lembrados pelos eleitores.
Os demais citados, Edivaldo Júnior (4%) e Simplício Araújo com 1%, segundo a margem de erro poderiam ser considerados ignorados pelos eleitores. Esse resultado é o que simula realmente a próxima eleição majoritária no Maranhão. Entende-se assim porque eles são ocultados pelos veículos de imprensa.
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